Quando estava com os cancros aprendi muito sobre a vida com as pessoas na sala da quimioterapia, aquela coragem admirável. E como serão lá em casa? Uns chatos como maridos e mulheres, mas era impossível não gostar delas no hospital. Aquele rapaz de um conjunto [Xutos & Pontapés] que morreu com um cancro, o Zé Pedro, uma coragem espantosa. Eu saía de lá cheio de respeito. Aquilo é horrível, a ressaca também e o que vem à cabeça não é agradável, mas as pessoas portavam-se com uma coragem admirável. Pareciam mais humanas e quentes do que fora daquele contexto, porque não necessitavam de competir. A vida, afinal, é só isto e nós fomos feitos para a morte e não para a vida, mas enquanto estou vivo devo tirar alguma alegria disso.
António Lobo Antunes