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sábado, 3 de agosto de 2013

Amar é coisa de loucos

E coisa de heróis também. Amar é um acto de coragem. Da mais insana coragem. Quantos Rambos conheces que são capazes de derrotar um exército e mesmo assim choram como cãezinhos abandonados quando o amor lhes foge por entre os dedos?
Quantas balas vale um amor?
E depois há os homens que o agarram de frente. Coitados e tão felizes. Desgraçados e tão grandes. É tão pouco o que nos eleva que quando algo assim nos surge temos medo de que não seja real. E não é. E desde quando só o que é real tem direito a existir? E desde quando é o que de facto existe que nos dá existência? E desde quando é preciso a confirmação da ciência para asseverar o que se move em nós?
Só os que acreditam em milagres os conseguem fazer.
E só os que acreditam no amor o conseguem viver. Os que sabem que podem perdê-lo e nem assim se perdem dele, os que o assumem sem receios e nem assim deixam de tremer. Só o maior dos homens diz “eu amo” com a força de quem disse uma verdade universal, com a sobriedade de quem fala o que muda o mundo. Só quem ama para além do medo diz “eu amo” para que até o medo se assuste com a dimensão do que está diante de si. Amo-te com todas as palavras. E só “amo-te” consegue ser tantas palavras numa só. Amo-te é quero-te, preciso-te, desejo-te; e também temo-te, receio-te, rastejo-te; e ainda sofro-te, abraço-te, beijo-te. Amo-te é a palavra perfeita, a palavra que é tantas vezes dita mas poucas vezes com tudo o que vale dentro de si.
Quantas tretas há em cada “amo-te”?
E nem todos os homens, nem todas as mulheres, se sentem com força para assumir o risco. Porque assumir um amor é assumir a fragilidade absoluta. Nada é mais diabólico do que o amor, nada é mais poderoso do que o amor. Quem é amado manda no mundo. Quem é amado define o percurso, a orientação. Quem é amado decide; quem ama só consegue amar. E são tão poucos os amados que sabem o que é amar.
Se vires que mandas em mim continua a mandar; antes teu escravo que teu refém.
E é essa a escolha que quem ama pode fazer: escravo ou refém? Eu prefiro ser escravo, estar a teus pés quando me queres a teus pés, estar nos teus braços quando me queres nos teus braços; estar onde queres que esteja basta-me para estar onde nunca vou deixar de querer estar. Sou do sítio onde estás porque só amo o sítio onde moras. E amo-te em silêncio para não saberes que estou, para seguires o teu caminho como se eu não estivesse, para que sejas o que és sem saberes que te persigo.
Amo-te sem palavras para não estragar o silêncio que me protege.
E não é preciso ser linguista para saber que gramática nenhuma tem categoria para nos incluir.
 
Pedro Chagas Freitas