Toda a Mente tem uma Voz... e toda a Voz tem uma Mente...
quarta-feira, 29 de maio de 2013
segunda-feira, 27 de maio de 2013
"O Amor, Meu Amor" - Mia Couto
Nosso
amor é impuro
como
impura é a luz e a água
e
tudo quanto nasce
e
vive além do tempo.
as
tuas são luz
e
dão a volta ao universo
quando
se enlaçam
até
se tornarem deserto e escuro.
E
eu sofro de te abraçar
depois
de te abraçar para não sofrer.
para
deixares de ter corpo
e
o meu corpo nasce
quando
se extingue no teu.
para
me sufocar
e
espreito em tua claridade
para
me cegar,
meu
Sol vertido em Lua,
minha
noite alvorecida.
e
eu me converto na tua sede.
Meus
lábios mordem,
meus
dentes beijam,
minha
pele te veste
e
ficas ainda mais despida.
E
em tua saudade ser a minha própria espera.
Quando
apenas queria dormir em ti.
Quando
ansiava ser um sonho teu.
para
em mim mesmo te plantar
menos
que flor: simples perfume,
lembrança
de pétala sem chão onde tombar.
e
a minha vida, já sem leito,
vai
galgando margens
até
tudo ser mar.
Esse
mar que só há depois do mar.
Mia Couto
Poses at 90 Degrees
by
Tracy Valleau
(Retirado Vision Light Gallery)
quarta-feira, 22 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
segunda-feira, 13 de maio de 2013
O Amor Antigo
(Retirado do Google)
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 6 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
Amo-te Sem Saber Como
Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.
Pablo Neruda
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