Toda a Mente tem uma Voz... e toda a Voz tem uma Mente...



segunda-feira, 27 de maio de 2013

"O Amor, Meu Amor" - Mia Couto


Nosso amor é impuro

como impura é a luz e a água

e tudo quanto nasce

e vive além do tempo.

 
Minhas pernas são água,

as tuas são luz

e dão a volta ao universo

quando se enlaçam

até se tornarem deserto e escuro.

E eu sofro de te abraçar

depois de te abraçar para não sofrer.

 
E toco-te

para deixares de ter corpo

e o meu corpo nasce

quando se extingue no teu.

 
E respiro em ti

para me sufocar

e espreito em tua claridade

para me cegar,

meu Sol vertido em Lua,

minha noite alvorecida.

 
Tu me bebes

e eu me converto na tua sede.

Meus lábios mordem,

meus dentes beijam,

minha pele te veste

e ficas ainda mais despida.

 
Pudesse eu ser tu

E em tua saudade ser a minha própria espera.

 
Mas eu deito-me em teu leito

Quando apenas queria dormir em ti.

 
E sonho-te

Quando ansiava ser um sonho teu.

 
E levito, voo de semente,

para em mim mesmo te plantar

menos que flor: simples perfume,

lembrança de pétala sem chão onde tombar.

 
Teus olhos inundando os meus

e a minha vida, já sem leito,

vai galgando margens

até tudo ser mar.

Esse mar que só há depois do mar.

 

Mia Couto

Poses at 90 Degrees

Poses at 90 Degrees
by
Tracy Valleau
(Retirado Vision Light Gallery)

Dark...


terça-feira, 21 de maio de 2013

"Viagem"


"Andei a vasculhar as gavetas,

Para arrumar o presente,

Como quem pressente

Que o passado está mal arquivado."
 
Fátima Marinho

Dance with me to the end.....


segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Amor Antigo


(Retirado do Google)
O amor antigo vive de si mesmo,

não de cultivo alheio ou de presença.

Nada exige nem pede. Nada espera,

mas do destino vão nega a sentença.


O amor antigo tem raízes fundas,

feitas de sofrimento e de beleza.

Por aquelas mergulha no infinito,

e por estas suplanta a natureza.


Se em toda a parte o tempo desmorona

aquilo que foi grande e deslumbrante,

o antigo amor, porém, nunca fenece

e a cada dia surge mais amante.

 
Mais ardente, mas pobre de esperança.

Mais triste? Não. Ele venceu a dor,

e resplandece no seu canto obscuro,

tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade

domingo, 5 de maio de 2013

Amo-te Sem Saber Como

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio

ou seta de cravos que propagam o fogo:

amo-te como se amam certas coisas obscuras,

secretamente, entre a sombra e a alma.

 

Amo-te como a planta que não floriu e tem

dentro de si, escondida, a luz das flores,

e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo

o denso aroma que subiu da terra.

 

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,

amo-te directamente sem problemas nem orgulho:

amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

 
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,

tão perto que a tua mão no meu peito é minha,

tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.
 
Pablo Neruda
 
(Retirado Google)