Toda a Mente tem uma Voz... e toda a Voz tem uma Mente...



domingo, 21 de outubro de 2012

Manuel António Pina


A um Homem do Passado

Estes são os tempos futuros que temia

o teu coração que mirrou sob pedras,

que podes recear agora tão fundo,

onde não chegam as aflições nem as palavras duras?


Desceste em andamento; afinal era

tudo tão inevitável como o resto.

Viraste-te para o outro lado e sumiram-se

da tua vista os bons e os maus momentos.


Tu ainda tinhas essa porta à mão.

(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)

Agora já não é possível morrer ou,

pelo menos, já não chega fechar os olhos.

Manuel António Pina