Se
eu não soubesse que a minha vida é mais sagrada do que todos os nomes santos,
Hoje não escrevia este poema.
Tinha saltado da ponte,
Ou cortado as veias.
Se eu não soubesse, sem saber porquê, que cada
minuto, neste degredo, contém um segredo,
Tinha disfarçadamente caído para a avenida,
No mesmo lugar onde uma antiga amiga caiu
disfarçadamente,
Para fintar as vozes que se aprumariam por ela
se matar.
Se eu não soubesse que o horror em que vivo me
é devido,
Por inalcançáveis razões,
Hoje não escrevia este poema.
Tinha incinerado o corpo,
Para que ninguém perdesse tempo num catálogo
de caixões.
Estou mais que morta e vivo, apesar disso,
Sei que é preciso pisar hirta até o último
segundo,
Só não sei porque razões escolhi (se é que
escolhi, como dizem por aí), neste buraco fundo,
O caminho mais sombrio!
Se não morri de um ventre descontente
É porque o caminho existe.
Porque não te revelas, ó Deus triste!
Porque não vens aqui chafurdar nesta lama,
Com esta que Te clama por piedade e não salta
da ponte
Em prol da eternidade!?