Toda a Mente tem uma Voz... e toda a Voz tem uma Mente...



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sagrada!


Se eu não soubesse que a minha vida é mais sagrada do que todos os nomes santos,

 Hoje não escrevia este poema.

 Tinha saltado da ponte,

 Ou cortado as veias.

 Se eu não soubesse, sem saber porquê, que cada minuto, neste degredo, contém um segredo,

 Tinha disfarçadamente caído para a avenida,

 No mesmo lugar onde uma antiga amiga caiu disfarçadamente,

 Para fintar as vozes que se aprumariam por ela se matar.

 Se eu não soubesse que o horror em que vivo me é devido,

 Por inalcançáveis razões,

 Hoje não escrevia este poema.

 Tinha incinerado o corpo,

 Para que ninguém perdesse tempo num catálogo de caixões.

 Estou mais que morta e vivo, apesar disso,

 Sei que é preciso pisar hirta até o último segundo,

 Só não sei porque razões escolhi (se é que escolhi, como dizem por aí), neste buraco fundo,

 O caminho mais sombrio!

 Se não morri de um ventre descontente

 É porque o caminho existe.

 Porque não te revelas, ó Deus triste!

 Porque não vens aqui chafurdar nesta lama,

 Com esta que Te clama por piedade e não salta da ponte

 Em prol da eternidade!?
 
 
Fátima Marinho